Esse coral chega ao local e se reproduz rapidamente. Como é exótico, ele chega e começa a ocupar o local que deveria ser de organismos nossos, como corais nativos e outros organismos marinhos", esc...
Esse coral chega ao local e se reproduz rapidamente. Como é exótico, ele chega e começa a ocupar o local que deveria ser de organismos nossos, como corais nativos e outros organismos marinhos", esclarece o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Soares. Entre eles, estão alguns tipos de moluscos, algas e até uma espécie de esponja encontrada apenas no Ceará.
Na água, o coral-sol não consegue sobreviver por muito tempo e vai se dissipando nos cascos de embarcações. Ao se aproximar do litoral, a preocupação é que o animal alcance corais naturais e consiga se alastrar com mais facilidade. "Por enquanto, ele está em navios, mas, se entrar nessas áreas naturais, vai impactar profundamente a pesca e o turismo - fora o funcionamento da reprodução de uma série de espécies que a gente desconhece", afirma Soares, ressaltando que a Pedra da Risca do Meio, em Fortaleza, guarda espécies que só estão no Ceará.
Diante da nova constatação no Pecém, o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Lívio Gurjão, acredita que "é possível que a espécie já tenha colonizado ou venha a ser encontrada também em outras estruturas artificiais fundeadas ou até mesmo em novos ambientes naturais do litoral cearense".
Naufrágios
Quem também notou a diferença no ambiente do Pecém foi o cirurgião-dentista Alexandre Martorano, 43 anos, que há uma década se aventura no mar do Ceará e de outros países. "Tudo que tem a ver com a vida marinha é interesse de quem mergulha. O coral-sol, os estudos dizem, é prejudicial para os outros corais nativos. Então, é interesse de a gente saber e contribuir, já que temos mais acesso ao que está acontecendo", conta.
Alexandre mantém contato com pesquisadores da área e realiza mergulhos no petroleiro de Acaraú. Ele explica que o navio naquele Município é de um naufrágio ocorrido em 1942, resultado do conflito com um submarino italiano. Já no Pecém, o Baron Dechmont afundou em 1943 devido ao confronto com um submarino alemão.
Investir em pesquisa para conhecer o mar e criar ambientes artificiais para mergulho são medidas ainda pouco exploradas na avaliação do mergulhador, que já passou por locais como Cabo Frio, África do Sul, Caribe e Egito. "Os naufrágios aqui do Ceará são os que têm mais vida do que eu vejo pelo mundo nos lugares que eu já mergulhei. Mesmo com muita gente pescando, a renovação de vida é muito grande", ressalta.
Combate
Em junho de 2018, foi elaborado o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-sol para organizar as informações sobre a espécie e estabelecer estratégias para controlar o invasor. Mas, os desafios são grandes. O coral está no Brasil desde a década de 1980, período em que foi avistado em, pelo menos, 20 municípios do litoral de Santa Catarina, no sul do País, até o trecho de mar cearense.
"Um método que está sendo utilizado no Rio de Janeiro é com mergulhadores que usam martelos e talhadeiras e vão arrancando os corais. Inclusive, pescadores também auxiliam e vão vender esses corais limpando o ambiente, e ainda têm um ganho financeiro fazendo algumas coisas para vender como artesanato", explica Marcelo Soares.
A atividade, porém, tem riscos. No Ceará, como os navios estão em profundidades entre 25 e 30 metros, pode acontecer a propagação do animal no processo de retirada. "Tem uma discussão sobre o uso desses materiais porque para alguns, quando você usa o martelo para retirar esse coral, ele fica estressado e se reproduz", acrescenta.
Outra forma de controle consiste em envelopar os navios contaminados com uma espécie de plástico que mata vários animais. Para Marcelo, a forma mais eficaz está no uso da biotecnologia para desenvolver algum microorganismo que elimine apenas o coral-sol.
Lívio Gurjão, do Ibama, ressalta que ainda não há normatização para evitar a fixação dos corais na estrutura de embarcações, "mas apenas o uso de tintas anti-incrustrantes ou a remoção física dos organismos aderidos a dispositivos submersos".
Segundo ele, para acompanhar a dispersão da espécie exótica invasora, o Instituto está em permanente contato com o Labomar. Paralelamente, o órgão visitou alguns municípios do litoral oeste do Ceará, "onde foram contatados pescadores e solicitado que fosse comunicada qualquer nova ocorrência da espécie".
A reportagem entrou em contato com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet) solicitando dados sobre cultivos pesqueiros nos municípios de Acaraú e São Gonçalo do Amarante, no entanto, o órgão informou que não poderia apurar as informações até o fechamento desta edição.