STJ decide que Guarda Civil Municipal não pode fazer revista em pessoas por atitude suspeita
Atitude considerada suspeita e nervosismo ao avistar viatura não são motivos suficientes para autorizar revista pessoal por membro da guarda civil municipal. Esses elementos não são considerados f...
Atitude considerada suspeita e nervosismo ao avistar viatura não são motivos suficientes para autorizar revista pessoal por membro da guarda civil municipal. Esses elementos não são considerados fundada suspeita de que a pessoa esteja praticando algum delito ou em posse de seus produtos resultantes de atos criminosos.
Com esse entendimento, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça deu provimento a Habeas Corpus para declarar ilegais as provas obtidas por guarda civil municipal e, consequentemente, absolver réu da condenação por roubo simples.
A decisão leva em consideração que não compete à guarda civil municipal fazer investigação, segundo o artigo 144, parágrafo 8º da Constituição Federal. A revista pessoal e até a invasão de domicílio por seus membros é admitida pela jurisprudência do STJ em situação de evidente flagrância, que não foi identificada nos autos.
No caso, o réu foi visto na rua em "atitude suspeita" e mostrou nervosismo ao avisar os guardas civis. Além disso, foi reconhecido por postagens em redes sociais comunitárias que chamavam atenção para suspeito de roubos a comércios na região.
Com ele foi encontrado um bilhete único de transporte público em nome de uma mulher. Em cooperação com a polícia, realizaram pesquisa sobre o objeto e, já na delegacia, identificou-se que a proprietária do cartão fora vítima de roubo.
Relator, o ministro Nefi Cordeiro entendeu que o procedimento violou o artigo 2º do parágrafo 240 do Código de Processo Penal, segundo o qual a busca pessoal é válida quando houver fundada suspeita. Autor de voto-vista, o ministro Antonio Saldanha Palheiro aderiu ao entendimento.
"O mero indício de que o agente encontra-se em estado de 'nervosismo' não é suficiente para autorizar a busca pessoal, porquanto não pode ser considerado fundada suspeita de que a pessoa esteja praticando algum delito ou em posse de seus produtos. Portanto, entendo descabida a atuação da guarda municipal em razão de suas atribuições não abarcarem o policiamento ostensivo e a realização de busca pessoal", afirmou.
Admitir a revista pessoal feita pela guarda sem fundadas razões, segundo o voto-vista, seria ferir gravemente as liberdades individuais, pois é ação autorizada constitucionalmente somente a órgãos restritos e agentes estatais.
HC 561.329